9.7.11

Nem felizes nem contentes

É apenas impressão minha, ou a crise (a troika, o FMI, os cortes no subsídio de Natal e, agora também, o rating da agência Moody's) está a afectar-nos mais que apenas as finanças?

Não vos parecem as pessoas com quem se cruzam na rua e com quem convivem no dia-a-dia mergulhadas numa apatia que ultrapassa a leveza da carteira?

Uma coisa é estarmos a perder, a galopantes passos, o poder de compra e, em catadupa, as regalias sociais que tínhamos por garantidas. Outra, bem mais preocupante (porque não se recupera com um contra-ciclo económico), é perdermos, com a mesma velocidade, a alegria de viver e a capacidade de reacção à adversidade.

É a experiência das dificuldades acumuladas que nos dá força anímica para enfrentar as novas. E a verdade é que estamos habituados a ter muita coisa sem esforço.
A culpa é, também, nossa, embora seja bem mais fácil e confortável (habitual, isso sem dúvida) culpar alguém abstracto, como "o governo" ou "os outros".

Há 50 anos, principalmente numa região dura como era a Gândara, os "espinhos" eram muitos e o esforço diário. Ainda assim, cantava-se nos campos, assobiava-se na rua. E não se culpava ninguém. Comparativamente, a crise de hoje é uma anedota, mas ainda assim anda toda a gente (mais ou menos, mas toda gente) depressiva.

Nesta sociedade onde a felicidade parece que se compra a dinheiro (ou mesmo em suaves prestações mensais), vão-se criando, cada vez mais amiúde, pessoas infelizes.
É nosso dever esforçarmo-nos para sermos felizes. Para conseguirmos alguma coisa com esforço, coisa a que nos desabituámos. Mas sobretudo pelas crianças e jovens, que não têm memória, nem sequer contada, de como era dantes, e que darão, por isso e incontornavelmente, adultos ainda mais infelizes e depressivos.

(publicado no Editorial da edição n.° 216 do jornal AuriNegra, de 8 de Julho de2011)

1 comentário:

  1. Anónimo12.7.11

    VENHA!! ;)
    Acho que encontras o problema no último parágrafo... não sei como nem porquê, mas cada vez se assiste a uma desistência fácil, a uma existência de inexistência de valores, valores que sejam transformados em objectivos e metas, claro com esforço... acredito que cada vez mais os pais tentem compensar da pior forma a sua ausência junto dos filhos...

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Mandem lá vir, então.