9.7.11

Nem felizes nem contentes

É apenas impressão minha, ou a crise (a troika, o FMI, os cortes no subsídio de Natal e, agora também, o rating da agência Moody's) está a afectar-nos mais que apenas as finanças?

Não vos parecem as pessoas com quem se cruzam na rua e com quem convivem no dia-a-dia mergulhadas numa apatia que ultrapassa a leveza da carteira?

Uma coisa é estarmos a perder, a galopantes passos, o poder de compra e, em catadupa, as regalias sociais que tínhamos por garantidas. Outra, bem mais preocupante (porque não se recupera com um contra-ciclo económico), é perdermos, com a mesma velocidade, a alegria de viver e a capacidade de reacção à adversidade.

É a experiência das dificuldades acumuladas que nos dá força anímica para enfrentar as novas. E a verdade é que estamos habituados a ter muita coisa sem esforço.
A culpa é, também, nossa, embora seja bem mais fácil e confortável (habitual, isso sem dúvida) culpar alguém abstracto, como "o governo" ou "os outros".

Há 50 anos, principalmente numa região dura como era a Gândara, os "espinhos" eram muitos e o esforço diário. Ainda assim, cantava-se nos campos, assobiava-se na rua. E não se culpava ninguém. Comparativamente, a crise de hoje é uma anedota, mas ainda assim anda toda a gente (mais ou menos, mas toda gente) depressiva.

Nesta sociedade onde a felicidade parece que se compra a dinheiro (ou mesmo em suaves prestações mensais), vão-se criando, cada vez mais amiúde, pessoas infelizes.
É nosso dever esforçarmo-nos para sermos felizes. Para conseguirmos alguma coisa com esforço, coisa a que nos desabituámos. Mas sobretudo pelas crianças e jovens, que não têm memória, nem sequer contada, de como era dantes, e que darão, por isso e incontornavelmente, adultos ainda mais infelizes e depressivos.

(publicado no Editorial da edição n.° 216 do jornal AuriNegra, de 8 de Julho de2011)

23.6.11

O mundo através de um iPad

Sou macníaco há quase 20 anos, desde que mexi pela primeira vez num Macintosh, nas aulas de Computação Gráfica na ARCA, em Coimbra. Ou talvez antes ainda, quando, ainda no liceu, um professor de Electrotecnia me mostrou, orgulhosamente (existe outra forma?) um velhinho Apple II.

Em 92 comprei o meu primeiro computador Apple, um Mac Plus, que ainda funciona, apesar de se ter avariado a drive de diskettes. Hoje, tenho, para além desse, um Quadra 630, um Mac Pro, um PowerBook, um iPod vídeo, um Newton MessagePad, um iPhone 3GS e, desde o final da semana passada, este iPad onde escrevo este "poste".

"A tua vida vai mudar", disse o Noca, que já tinha assistido à mudança da do cunhado com a compra do dele. Mudou. Fez-me relançar este blog, por exemplo. Dantes, só o fazia no gabinete, depois de um dia de trabalho, quando já não me apetecia absolutamente nada olhar para o écran do computador. Por isso esteve tanto tempo em stand-by. Com o iPad, posso fazê-lo onde me der vontade: na casa de banho, na sala de espera do dentista ou na esplanada do café (como é o caso).

Admirável mundo novo...