31.7.09

slowLIFE?

A slow food é um movimento criado em 1986 em resposta ao conceito das grandes cadeias de restauração – como McDonald's, Kentucky Fried Chicken ou Pizza Hut –, contra a padronização dos gostos e em defesa da identidade gastronómica. Esta reacção, embora pertinente, não surgiu de imediato. Durante algum tempo, o conceito fast food agradava (para muita gente, agrada ainda). Primeiro porque era moda. Depois porque era mais barato e (à La Palisse) mais rápido.

Mas a rapidez tem sempre um preço. No que respeita à comida, são as gorduras (porque fritar é mais rápido que cozer ou grelhar), são as enormes quantidades de calorias e as verdadeiras bombas de açúcar, e é a duvidosa qualidade do que vai à frigideira, à chapa ou ao forno. Por mais que a publicidade o procure ocultar. A incessante procura do mais barato é, na minha opinião (se é que esta vale alguma coisa), uma das causas maiores da decrepitude da nossa sociedade.

Esta é uma sociedade que procura tudo cada vez mais rápido e mais barato. A qualidade já não interessa. Não interessa a criatividade. Nem o indivíduo. O que interessa é trabalhar cada vez mais, por cada vez menos. E, com a crise, há cada vez mais pessoas dispostas a isso. A viver à pressa, a engolir sem mastigar, a defecar sem digerir, a lamber a vida sem lhe sentir o gosto...

O preço a pagar pela adopção de uma fast life é muito mais elevado do que na fast food. Podemos facilmente recuperar de uma má refeição, mas cada momento desperdiçado com uma vida vivida à pressa é irrecuperável, insubstituível.

Não, este blogue não tem lições de moral. A não ser, vá lá, esta. Este blogue pretende apenas ser (sem grandes preocupações de estilo) um espaço de reflexão (com clichés como este) sobre a arte, a espécie humana (as suas relações interpessoais e com o mundo) e o design.

Aqui cabem as pessoas: a criatividade dos outros como fonte de inspiração pessoal (assim como a minha criatividade como esperança de inspiração alheia) e o design como elemento modificador de realidades, do futuro e
integrador do tudo o resto. São as marcas que vão sendo deixadas por aqueles que acham que podem fazer a diferença. São uns miseráveis restos de humanidade que ainda nos vão sobrando. E são os amigos. Acima de tudo, os amigos.

Este blogue é também um esforço para manter frescas as convicções, que
murcham no quotidiano, gasto a ganhar a vida. E levantar alto os ideais, moeda de troca de pouco valor nos tempos que correm, mas que acalentam a alma.

Nada podemos fazer quanto à velocidade com que a vida passa por nós. Mas sem dúvida que temos uma palavra a dizer no que respeita à rapidez com que passamos pela vida.

Slow life como slow food. Uma boa refeição não demora mais tempo que uma má. Sabe é muito melhor...